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Agentes que denunciaram irregularidades na aplicação da Lei Aldir Blanc sofrem assédios; provas são encaminhadas às autoridades competentes

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Acabam de ser entregues às autoridades competentes provas de que grupos de interesses, agindo em busca de vantagens pessoais diante das acusações de irregularidades no uso de verbas emergenciais e assistenciais da Lei Aldir Blanc (LAB), constrangeram testemunhas em defesa de interesses pessoais. Os documentos foram encaminhados à Polícia Federal e ao Ministério Público Estadual do Paraná para análises e providências que entenderem necessárias.

Segundo apuração jornalística realizada por um consórcio que produziu o estudo, as vítimas entregaram comprovações de dezenas de episódios, em mais de mil documentos com indícios de agressões e constrangimentos sofridos pelos denunciantes. Segundo as fontes, as denúncias visam que se faça justiça ou, ao menos, que situações semelhantes não ocorram mais contra a sociedade civil no setor cultural.

As agressões foram motivadas por denúncias de que recursos assistenciais da Lei Aldir Blanc no Paraná não estavam chegando aos artistas e trabalhadores do setor cultural mais afetados pela pandemia. Diante de informações desta gravidade, esperava-se que uma apuração realizada por voluntários (ativistas culturais, lideranças da área, pesquisadores, juristas, jornalistas) ajudasse a melhorar a distribuição de recursos, unindo a classe afetada por um processo mais justo.

No entanto, segundo o que pode ser apurado, os autores do trabalho humanitário que visava o acolhimento aos mais necessitados viram-se diante de ataques pessoais, que segundo relatos e documentos, podem ter ocorrido com intenção de silenciar denúncias divulgadas na série de reportagens “A Crise da Cultura”, no Le Monde Diplomatique Brasil.

Segundo as fontes e cruzamentos de dados realizados, teria existido a atuação de grupos de interesses favorecidos muitas vezes em editais (de forma concentrada, segundo estudo), que estavam por trás destes episódios. Agentes e gestores culturais teriam usado da máquina sindical, político-partidária e governamental contra representações setoriais orgânicas e legítimas da cultura para tentar manter vantagens e abafar um caso complexo coberto na imprensa há 3 anos.

De acordo com dados obtidos junto a movimentos sociais, os ataques se intensificaram como consequência de denúncias, assembleias e cobertura de imprensa que se seguiram sobre irregularidades ocorridas em editais de cultura.  Os documentos apontam que as  tentativas de constrangimentos vinham, em sua maioria, de premiados com recursos públicos e agentes político-partidários. Entre os ataques mais frequentes estavam comentários pessoalizados (argumento ad hominem) com calúnias, difamação, tentativa de chantagem e até ameaças.

Entre as denúncias encaminhadas ao MP em 2021, a Notícia de Fato 004621103908-9 se tornou o inquérito 0013860-08.2023.8.16.0013 na Polícia Civil para, a princípio, investigar ações de agrupamentos contra indivíduos que faziam apurações da aplicação de recursos da LAB 1. “A PCPR está investigando o caso e realizando diligências a fim de esclarecer o fato e concluir o inquérito policial. Testemunhas estão sendo ouvidas e darão auxílio no andamento das investigações”, informou a assessoria de comunicação da Polícia Civil do Paraná.

Corre também na Polícia Federal o inquérito IPL 2021.0027295 para averiguar ameaças e constrangimentos promovidos por dirigentes de classe, contra membro do Conselho Federal da Ordem dos Músicos do Brasil (CF-OMB), responsável por acompanhar a aplicação da LAB. Sobre o andamento deste inquérito, a reportagem procurou pela Comunicação da Superintendência Regional da PF no Paraná, que informou que não estava autorizada a ceder informações sobre o inquérito, mas sugeriu que “busque se habilitar na própria Justiça Federal, via Sistema E-Proc, para ter acesso diretamente ao inquérito, na hipótese de que não esteja coberto por algum grau de sigilo, o que é também da competência da JF estipular.”

Diversas entidades de classe, sindicatos e movimentos pararam de se manifestar diante de casos, como da Lei Paulo Gustavo (LPG), que passa por grave crise no estado. A consequência é que não se fiscalizam, cobram, debatem, ou se discutem políticas culturais no Paraná, pois partidos, gestores públicos e sindicatos instalaram clima de terror no meio cultural, causando silenciamento do meio artístico e cultural, segundo relatos de fontes que testemunham os episódios.

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Cultura

Lei Aldir Blanc: estudo revela atuação de grupos de interesses em verbas de cultura

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A série de reportagens investigativas “A Crise da Cultura” constatou que a Lei Aldir Blanc 1 (LAB 1), criada com o intuito de salvar fazedores de cultura durante a pandemia, passou por episódios de aplicação inadequada de recursos. Relatos, denúncias e notícias confirmam que o panorama se repetiu em diversas partes do Brasil. A situação foi reconhecida recentemente pelo Ministério da Cultura (MinC) e Conselho Nacional de Políticas Culturais (CNPC). Movimentos sociais e especialistas em políticas culturais alertam que o panorama pode voltar a acontecer no atual momento, envolvendo a Lei Paulo Gustavo e Política Nacional Aldir Blanc.

 

Mesmo após dois anos, fatos relacionados ao caso da Lei Aldir Blanc continuam vindo à tona. Um estudo apontou que durante a aplicação de recursos públicos da LAB 1, teria ocorrido atuação de agrupamentos, dos quais faziam parte integrantes que participaram de reuniões da deliberação destas políticas junto ao poder público, influindo no formato e nas normas de editais de cultura. Os que estiveram na articulação da LAB 1 no Paraná tiveram apoio de bases de cultura partidárias, além de relações com determinados parlamentares. Apesar da atuação aparentemente local, uma checagem de fatos documentais e de redes públicas na internet aponta conexões nacionais com grupos e coletivos que protagonizaram episódios contraditórios em suas trajetórias, que geraram questionamentos.

 

Este estudo ocorreu após reação agressiva de membros das organizações diante das denúncias de movimentos sociais sobre contradições na LAB 1 (algumas destas denúncias foram encaminhadas ao MP e se tornaram inquéritos policiais). A origem deste mapeamento dos grupos de interesses foi realizada pelo GT de Direitos Humanos do Fórum de Cultura do Paraná (FCP), que em assembleia realizada em 17/01/2022 votou pela liberação integral de documentos sobre políticas culturais. O Observatório da Cultura do Brasil (OCB) teve acesso ao material e atestou o estudo através de teorias jurídicas, econômicas e das ciências políticas, qualificando o caso como atuação de grupos de interesses e lobby nos recursos de editais.

 

Para confirmar a identificação dos grupos (identificados pelo GT Direitos Humanos do FCP), o OCB localizou uma rede de relações “pooling accounts em operações estruturadas”, utilizando a teoria dos grafos (muito utilizada pela Interpol e FBI em investigações) associando com uma metodologia estruturalista baseada na localização de interseções de quatro elementos: agentes premiados citados em auditorias sobre a Lei Aldir Blanc; classe dirigente e lideranças de movimentos (com influência no poder público estadual e municipais); lideranças políticas e militância de bases de cultura de partidos; e organizações que mantém controle sobre redes sociais, promovendo constrangimentos contra reclamantes da má aplicação.

 

O cruzamento destes elementos resultou no grafo que faz parte deste estudo, que aponta conexões ator-rede, e confirma os mesmos nomes citados, se constituindo como um único agrupamento (os nomes não foram expostos, por se tratar de uma apuração independente e que não implica em quaisquer acusações criminais, de modo a não violar a integridade moral dos envolvidos).

 

Irregularidades apontadas em auditorias

Os elementos da metodologia aplicada para gerar o grafo remetem a episódios que marcaram a má aplicação da LAB 1 no Paraná. O primeiro diz respeito a duas auditorias realizadas no estado, do Tribunal de Contas do Paraná-PR (TCE-PR) em 2022; e da Controladoria Geral da União (CGU) em 2023. Ambas confirmaram irregularidades, como acúmulos de premiações e recursos em mesmos nomes, ajudando no esclarecimento do que motivou a grande quantidade de excluídos nas políticas assistenciais e emergenciais da LAB. Além disso, integrantes de grupos de interesses foram apontados nestas auditorias (alguns chegaram a ser condenados e tiveram que devolver recursos). Informações destas auditorias, somadas a reportagens da série “A Crise da Cultura” e a um cruzamento de dados apontam que articuladores que contribuíram com a elaboração das políticas públicas da LAB 1 teriam se beneficiado de seus recursos.

 

Como consequência, foram definidas políticas que levaram à exclusão de trabalhadores mais necessitados, devido à burocracia de editais. Entre os segmentos atingidos pela escuta seletiva estavam música popular, artesanato, circo, comunidades tradicionais, entre outras que passavam por dificuldades desde março de 2020, sendo impedidas de trabalhar durante quase 2 anos de lockdown, sem conseguirem acessar os recursos emergenciais da LAB.

 

A distribuição assimétrica de verbas de editais tem histórico, confirmado por um outro estudo realizado pelo OCB, que comparou editais de cultura entre 2015 e 2023 (incluindo recursos da LAB 1), apontando que os recursos chegam a uma parcela diminuta, enquanto a maioria dos trabalhadores não recebem recursos. O estudo também concluiu que a maioria dos integrantes de grupos de interesses ficaram com a maior parte das verbas da Lei Aldir Blanc, recebendo mais de 204 premiações nos editais. Ao analisar os mesmos nomes durante todo o período abrangido pela pesquisa, estes teriam recebido 452 prêmios e recursos.

Por Tiago Cordeiro

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Cultura

Prêmio Jabuti: Hubert Alquéres é o curador da 65ª edição

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Hubert Alquéres é o novo curador do Prêmio Jabuti. Atuante nas áreas de cultura e educação há mais de 40 anos, tem uma história antiga com o mais importante prêmio do livro brasileiro: durante seis anos, coordenou a Comissão do Prêmio Jabuti na Câmara Brasileira do Livro (CBL).

“Recebo esse convite como uma grande responsabilidade e uma honra, por tudo que o Jabuti representa. Poder contribuir, ainda mais de perto, com essa celebração à riqueza literária e cultural de nosso país é um privilégio”, comenta Hubert Alquéres.

O novo curador do Prêmio Jabuti iniciou sua carreira na área acadêmica como professor na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes. Foi secretário estadual e secretário executivo na Secretaria de Educação, além de ter presidido por quatro vezes o Conselho Estadual de Educação de São Paulo, do qual é membro desde 1998.

Atua como vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro há 12 anos. Nesse período, participou da organização de Bienais do Livro e de feiras nacionais e internacionais. Também foi um dos curadores da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em 2010. No mesmo ano, recebeu a homenagem de Amigo do Livro, por sua contribuição ao livro e à leitura.

“Hubert Alquéres construiu uma carreira brilhante, a qual muito admiramos, nas áreas da Cultura e Educação. Temos muito orgulho e respeito por toda sua dedicação e seu entusiasmo às causas de nosso setor. Sem dúvida, a escolha de seu nome trará ainda mais grandeza ao Jabuti”, avalia a presidente da CBL, Sevani Matos.

Alquéres foi ainda presidente da Imprensa Oficial de São Paulo, de 2003 a 2011. Em seu trabalho como editor na Imprensa Oficial e na Edições de Janeiro, da qual é sócio, recebeu 27 vezes o Prêmio Jabuti com autores renomados como Ferreira Gullar e Antonio Candido.

Preside a Academia Paulista de Educação e o Conselho de Administração do Museu AfroBrasil – Emanoel Araujo e é membro da Associação Amigos da Biblioteca Mário de Andrade.

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